sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Globo e cia. na ECA

Presença de empresas de mídia no curso de jornalismo da USP gera reação dos alunos

Henrique Costa, para o Observatório do Direito à Comunicação 29.02.2008
Para alguns, um curso de jornalismo moderno e que contempla a pluralidade. Para outros, um currículo abandonado às necessidades do mercado, sem linha pedagógica e que põe em risco a autonomia da universidade pública. Uma realidade confusa que só corrobora com a visão de que a universidade brasileira vive uma grave crise. Financeira, administrativa e, sobretudo, de identidade.

Esse é o caso do curso de jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Há alguns anos, o Departamento de Jornalismo da faculdade promoveu sua primeira parceria com um grande conglomerado de mídia, a Folha de S. Paulo. Desde então, as parcerias se estenderam a outras empresas – Editora Abril e, a partir deste ano, as Organizações Globo – e também à organizações não-governamentais como a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), onde participam de disciplinas chamadas optativas livres, cuja escolha fica a critério do aluno, mas sem a obrigação em cursá-la.

O modelo, apesar de parecer consolidado, ainda gera polêmicas e questionamentos no ambiente universitário. Um sinal de que as disciplinas co-patrocinadas ainda não foram totalmente digeridas na universidade é a iniciativa recente do Centro Acadêmico Lupe Cotrim (Calc), dos alunos da ECA, em promover, por conta própria, um curso “anti-Globo”. Em resposta ao modelo adotado, o Calc pretende traçar um histórico da emissora da família Marinho e, a partir disso, questionar as prioridades da universidade. Incongruentes, a seu ver, com o caráter público e a crítica que devem estar presentes no curso.

“Se os coordenadores do curso avaliam que ele tem deficiências, a opção é pelas parcerias”, afirma Tatiane Klein, do centro acadêmico. “Quando um professor especialista em alguma área deixa a disciplina, não há quem o substitua”, continua. O que levaria a crer que, se não há parceria, não há substituto. Um exemplo é a disciplina “Jornalismo Sindical”, que não existe desde 2003, quando faleceu o professor e jornalista Jair Borin.

Para o professor José Coelho Sobrinho, coordenador do curso de jornalismo da ECA e responsável pela implantação das parcerias, o modelo adotado pelo curso é positivo porque possibilita aos alunos tomar contato com as experiências da grande imprensa. Mas ressalta que ninguém é obrigado a cursá-las. “As parcerias são feitas de acordo com a necessidade de formação do aluno e contemplam a pluralidade que o curso deve ter”, afirma Coelho.

Em formato de “estudos de caso”, a Folha patrocina uma disciplina sobre imprensa diária, enquanto a Abril se dedica a ensinar “edição de texto em revista”. Já a Globo começará, depois de cinco anos de negociação, com um curso sobre “jornalismo em televisão”.

Responsabilidade de quem?

A Rede Globo tem um departamento específico para promover o intercâmbio com as universidades, o “Globo e Universidade”. Andréa Pansani, responsável por acompanhar a parceria com a ECA, conta que, para a Globo, a idéia é promover “uma troca permanente de experiências e idéias com as universidades” e que o projeto “contribui para a geração de conhecimento sobre televisão no país e com a formação de futuros profissionais”.

Para o professor Hamilton Octavio de Souza, chefe do Departamento de Jornalismo da PUC-SP, “A Globo tem procurado estabelecer boas relações com as universidades, cumprindo seu papel de relações públicas. O problema é a instituição aceitar isso, é a desmoralização da universidade. Se ela acha que uma empresa privada pode fazer melhor, então fecha”. De fato, o que se questiona não é o interesse das corporações, mas sim a opção da universidade.

Segundo o professor da PUC paulistana, é importante que os alunos tenham contato tanto com a grande imprensa quanto com veículos independentes, mas rechaça qualquer tipo de parceria como as que são feitas na ECA-USP. “Abrimos espaço para conhecer as empresas, não só as grandes. Mas não abrimos a grade do curso para esse tipo de coisa”.

As disciplinas feitas em parceria têm uma descrição e um programa previamente definidos, acessível a qualquer um, no sistema eletrônico de graduação da USP. Além disso, contam também com um professor responsável, assim como qualquer outra. Mas dentre as várias acusações feitas pelo centro acadêmico está a de que, na prática, quem determina o programa é a empresa e quem conduz o curso são os seus profissionais.

O professor Coelho garante que a universidade, através do seu Departamento de Jornalismo, não abdica de decidir a respeito do curso. “As disciplinas têm professores encarregados, que podem vir a convidar os profissionais das empresas. A universidade não abre mão de definir seu currículo”. Já para a Globo, a disciplina é ministrada por “ambos”. Mas é ao consultar os alunos que cursaram as disciplinas co-patrocinadas que se tem uma visão mais objetiva da questão. E não só isso. É possível também obter um pequeno retrato da universidade hoje.

Estudo de caso

Marjorie Rodrigues, aluna do 3º ano de jornalismo da ECA, revela que pretende trabalhar com jornalismo diário no futuro, desejo mais do que recorrente entre os alunos do curso. Resolveu cursar a disciplina “Estudo de caso – Imprensa diária”, sem saber que ela seria coordenada pela Folha de S. Paulo. Marjorie gostou do curso, mas, com razão, achava que era outra coisa. Afinal, quem organizou o curso foi o próprio programa de treinamento do jornal. “No Júpiter [o sistema de matrículas da USP] pareceu que iríamos analisar vários jornais impressos. Só no primeiro dia eu soube que seria uma série de palestras com editores e repórteres da Folha. Mas, no fim, foi uma disciplina legal, eu gostei de fazê-la”.

A futura jornalista conta com detalhes a respeito da experiência na disciplina da Folha. “No trabalho final, tínhamos de analisar a cobertura que eles fizeram de um determinado evento e ressaltar seus pontos negativos e positivos. Para esse trabalho, era imprescindível que falássemos pessoalmente com pelo menos um dos jornalistas que participaram da cobertura”. O professor “responsável” pela disciplina era justamente José Coelho Sobrinho. “Não sei o quanto ele se envolvia ‘nos bastidores’, mas me parecia que a Ana [Estela de Souza Pinto, coordenadora do trainee da Folha] decidia as coisas no curso”, conta Marjorie.

Assim como no caso da Folha, o programa da disciplina “Edição de texto em revista” coordenada pela Editora Abril, também não seria facilmente identificável antes da primeira aula. É o que conta Rodrigo Barros Martins, aluno do 3º ano. “O programa da disciplina não correspondia ao do sistema Júpiter. Na verdade, o programa era pautado pelos jornalistas ‘responsáveis’ pela aula, já que a disciplina era uma espécie de workshop com um jornalista diferente por semana falando sobre temas genéricos do jornalismo e relacionando-os com sua experiência profissional”. A avaliação era feita por repórteres recém-saídos do Curso Abril de Jornalismo.

Com uma boa dose de naturalidade, Marjorie faz ainda um comentário que revela um sentimento cada vez mais comum dos estudantes em relação a seus cursos. “Acho que, em termos práticos, foi melhor do que algumas disciplinas ‘laboratório’ que a gente teve”. Seria o caso, então, a partir do que defendeu então o chefe de departamento da PUC, de fechar o curso de jornalismo na USP?

Onde mora o problema?

É inegável que as universidades, sobretudo as públicas, não devem misturar seus objetivos aos do mercado. Afinal, se a educação não é uma mercadoria (mesmo que alguns insistam no contrário), ela deve ser crítica, inclusive, do próprio mercado. Exatamente por isso, sem juízo do mérito, o que acontece na USP e em outras universidades brasileiras naturalmente deve ser questionado.

Para o professor Coelho, não há necessariamente incongruência nesta complicada relação entre público e privado. “Crítica não quer dizer condenação. É louvável que eles venham até aqui discutir o seu projeto”, diz, se referindo às empresas e às organizações não-governamentais. Quando perguntado por que outras mídias, alternativas, não têm o mesmo espaço, ele responde: “Só precisa haver oportunidade. O curso é pluralista e está aberto para quem se interessar”, diz Coelho. Já Hamilton, da PUC, acha estranho que uma universidade pública entregue para as empresas a função de ensinar. “As empresas têm sua forma de atuação pelas regras do mercado e a universidade tem que buscar conhecimento independente e crítico, inclusive da grande imprensa”.

Assim pensa também o estudante Rodrigo. Apesar de achar que as parcerias não ferem a autonomia da universidade, ele entende que as empresas não podem ditar as regras. “Acho que a participação das empresas nos cursos pode ser organizada de outra forma. Talvez em palestras, seminários e debates, ou até possuindo uma disciplina que tenha a supervisão rígida do professor responsável. A estrutura da disciplina deve condizer com o perfil do profissional que a universidade quer formar”, conclui.

“Queremos que o departamento diga qual é o critério que mostra a necessidade da parceria. Não somos contra ninguém, mas contra o fato das parcerias servirem para tapar buracos do curso”, afirma Tatiane, do centro acadêmico dos alunos da ECA. O que acontece na USP, entretanto, não é um caso isolado. Mas não se trata apenas de um problema financeiro. Falta também à universidade encontrar seu lugar no mundo contemporâneo e descobrir para quê forma seus estudantes.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Debate Opressões

Quantos negros estudaram com você até hoje? Quantas propagandas e capas de revista você viu que não tratam a mulher como objeto? Quantas ironias sobre homossexuais levantaram risadinhas na sua sala essa semana?

Nesta quinta-feira o CAVH irá realizar um debate sobre Opressões. A idéia principal é introduzir o tema aos estudantes de maneira mais ampla e contar com uma análise da sociedade pela visão de grupos oprimidos no seu cotidiano, como os negros, mulheres e homossexuais.

Não há justiça sem direitos iguais para todos. Não há igualdade sem respeito às diferenças. Venha debater com a gente!

28 de fevereiro, às 10:00 e 19:00 / sala Aloysio Biondi (5º andar)

Participantes:

manhã: Luka Amorim (Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social - ENECOS), Rachel Moreno (Observatório da Mulher) e Douglas Santos Alves (GLBTT)

noite: Maria Augusta Dib (Pastoral da Mulher Marginalizada), Caroline Rodrigues (GLBTT) e Gegê (Conlutas)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Grupo de Discussão

Grupo de Discussão - As ocupações e o levante do Movimento Estudantil em 2007
terça feira, 26/02, 11:30 na sala 1 do 5° andar
com a presença de estudantes da USP e da PUC

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

mais puc - carta de Hamilton Octávio de Souza

Carta Aberta aos Professores

Peço licença para me dirigir aos colegas na primeira pessoa. Em primeiro lugar, para desejar um bom ano de atividades para todos, no desempenho de nossas funções profissionais. Em segundo lugar, para confessar que é muito difícil escrever para um jornal da comunidade, como é o PUCViva, há mais de dez anos, sem abordar os assuntos que pautam a nossa realidade mais próxima, que faz parte do nosso dia a dia e que interfere diretamente no nosso trabalho – por mais delicados ou incômodos que sejam tais assuntos.

Não dá para escamotear, por exemplo, que reiniciamos o ano letivo no mais completo caos administrativo. Não conseguimos, em 60 anos de história, dominar questões básicas como providenciar listas corretas de alunos, programar o número de turmas, distribuir salas para todos os cursos, ter uma definição mais clara dos contratos dos professores. Este ano a PUC se superou: inúmeros alunos pagaram a matrícula, mas não estão nas listas; alunos transferidos continuam em situação anterior; o número de alunos nas turmas continua indefinido. Afinal, quem deve ser responsabilizado, por essa situação constrangedora para os professores, desgastante para os alunos e altamente corrosiva para a imagem da Universidade?

Não dá para ignorar também que a Reitoria decidiu levar adiante o processo de retaliação contra os estudantes que ocuparam a sala da Reitoria em novembro do ano passado. Várias instâncias da Universidade (departamentos, conselhos departamentais, conselhos de centro) aprovaram em seus colegiados manifestações contrárias à repressão e à punição, em defesa do diálogo e do entendimento entre os segmentos da Universidade e a sua direção. No entanto, na ânsia de crucificar os estudantes, enveredou por um caminho extremamente perigoso para a PUC e a comunidade, algo que exige de todos nós professores alguma reflexão e uma tomada de posição.

Vejamos. Não quero parecer chato, intolerante, sectário ou radical. Quero apenas verificar, com o máximo de isenção, se o que está acontecendo é normal e aceitável ou não. Primeiro, a Reitoria aceitou uma sindicância realizada de 3 a 26 de dezembro e que tem apenas depoimentos dos seguranças da Graber, que agem como arapongas e alcagüetes – e não como inspetores de alunos ou guardas patrimoniais. Nessa sindicância, os alunos não foram ouvidos, não prestaram depoimentos, mas foram relacionados como culpados. Invoco aos ensinamentos do Direito se tal procedimento segue princípios jurídicos e éticos, de tal maneira que possam ser legitimados e respeitados pela comunidade? Sei que os Estatutos da PUC não foram respeitados, mas pergunto: a decência foi respeitada?

Esse procedimento lembra muito bem outros processos que envergonham a história da humanidade, como os da ditadura militar no Brasil montados com base nos informantes do SNI; os da URSS stalinista organizados pela KGB; e os presididos pelo senador Joseph McCarthy, com depoimentos forjados e obtidos de maneira coercitiva e ardilosa, para incriminar supostos suspeitos de conspiração comunista contra os Estados Unidos. A comunidade está disposta a silenciar diante de uma perseguição escancarada e métodos macartistas de atuação?

Conforme os depoimentos de vários alunos, durante a matrícula, em janeiro e fevereiro, eles foram ameaçados de perder bolsa de estudo por participação na ocupação, ou foi negado a eles a renegociação da dívida pelo mesmo motivo. Faz sentido que um estudante que tenha qualquer participação política no movimento estudantil seja “lembrado”, pela alta direção da Universidade, de que ele é um “pobre” bolsista ou um “devedor” das mensalidades. Tais práticas devem ser consideradas normais e saudáveis no nosso meio?

Acho, no entanto, que o fato da maior gravidade é o uso de informações acadêmicas, retiradas da sala de aula e da relação do professor com o aluno, para fins estranhos ao processo ensino-aprendizado. Fico imaginando como deve se sentir um professor da PUC ao saber que a nota baixa que ele deu a determinado aluno, não apenas faz a avaliação do desempenho escolar do aluno, mas serve como elemento de reforço punitivo por sua participação política dentro da Instituição. Ou seja, a Universidade está sendo ética e reforça a democracia interna quando utiliza contra os alunos informações reservadas da esfera acadêmica? Isso não deixa caracterizada uma odiosa perseguição contra alguns estudantes, inaceitável do ponto de vista legal e moral?

Os fatos da nossa realidade indicam que algo de muito ruim contamina as entranhas da PUC. Imagino e não consigo admitir que o que vem ocorrendo hoje pudesse ter existido nas gestões de outros reitores, como a da Dona Nadir Kfoury e dos professores Luiz Eduardo Wanderley, Leila Bárbara, Joel Martins e Antonio Carlos Ronca. Não creio que eles tivessem aprovado uma sindicância desse tipo ou endossado que os prontuários acadêmicos dos alunos fossem usados – por outras instâncias – para punir os próprios alunos. Não creio.

Temo que essa degradação de valores acabe desmoralizando o nosso próprio trabalho de professores. É muito lamentável.


Hamilton Octavio de Souza,
Diretor da Apropuc (Associação dos professores da PUC)
18.02.2008
__._,_.___

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Repressão na PUC

SINDICÂNCIA
Mesmo sem resultado final, reitoria já pune estudantes

A Reitoria instaurou neste início de ano um Processo Administrativo contra os alunos que ocuparam sua sede em 2007. A comissão processante é presidida pelo professor Rubens Arai, da Faculdade de Direito, e conta ainda com os professores Silas Guerriero (Teologia) e Eliana Faleiros (Direito). Os trabalhos começaram no início de janeiro, mas foram suspensos em razão do período de férias.
Ainda assim, mesmo sem resultado conclusivo, a Reitoria resolveu punir os estudantes que tiveram seu nome arrolado na ocupação. Bolsistas estão ameaçados de perder seus direitos, inadimplentes tiveram suas negociações vetadas e formandos não poderão efetuar a sua colação de grau.
A instauração do Processo Administrativo é resultado de uma Sindicância que efetuou operou entre os dias 3 e 26 de dezembro do ano passado. Segundo o Ato da Reitora no 74/2007, a comissão sindicante, composta voluntariamente pelos professores Oswaldo Palotti (Direito), Adhemar Aparecido De Caroli (Fea) e Silas Guerreiro (Teologia), cuidou em “apurar e caracterizar faltas disciplinares, supostamente praticadas por um grupo de alunos que se autodenominava OCUPAPUC”. Foi considerada a ocorrência de dano patrimonial, lesão corporal contra os seguranças da empresa Graber e dano moral à universidade que, segundo o documento, “teve seu nome amplamente divulgado na mídia de forma negativa”.
Conclusões da Sindicância
A Sindicância concluiu que, dentre as cerca de 200 pessoas que participaram da ação – como reconhece o parecer da própria comissão sindicante –, nove estudantes selecionados como líderes do movimento deveriam ser punidos por meio de um processo administrativo.
Como noticiado no no 644 do jornal PUCviva, em 17/12/2007, “os estudantes não foram ouvidos. Alguns deles protocolaram pedidos de remarcação da data do depoimento e esclarecimentos à Comissão Sindicante, pois o telegrama que lhes fora enviado como convocação não apresentava o teor do processo. A Comissão, porém, julgou que poderia encerrar os seus trabalhos sem ouvir os principais acusados, que, segundo o professor Osvaldo, tiveram oportunidade de se expressar. Tal procedimento contradiz o estatuto da PUC-SP, que em seu artigo 134 afirma que ‘nas sindicâncias deve ser ouvido sempre o indiciado, que tem o direito de indicar os elementos ou provas de interesse de sua defesa’. Ainda segundo o Regimento Geral da Universidade, em seu artigo 187, ‘Colhidas as informações necessárias (..) deverá ser ouvido o sindicado, que poderá apresentar provas no ato ou no prazo máximo de três dias’”.
Os professores membros da Comissão Sindicante ainda opinaram pela instauração de Sindicância contra a Diretora da Faculdade de Serviço Social, Maria do Socorro Reis Cabral, por não ter autorizado a entrega dos prontuários de estudantes do curso de Serviço Social à Comissão, que desejava obter dados sigilosos sobre os planos de estudo destes estudantes.
O que está por vir
O recém-instaurado Processo Administrativo trabalhará a partir de 11/2 em apontar os estudantes responsáveis pelos danos elencados no Processo de Sindicância, podendo sugerir uma pena aos culpados, que pode ou não ser acatada pela Reitoria. Para tanto, a Comissão Processante se utilizará de fotos da ocupação e testemunhos de seguranças da Graber e da assessora da Vice-Reitoria Acadêmica Maria Clotilde Bairon Sant’anna. Durante o processo, a Comissão deverá também convocar os estudantes para depor, que poderão estar acompanhados de seus advogados, como garante o estatuto e o regimento da universidade.
Além de um Processo Administrativo, três dos nove estudantes apontados como líderes ainda terão de se preocupar com um Processo Cível, que diz respeito ao ato de reintegração de posse, ocorrido na madrugada do dia 10/11/2007. Mas isso não é tudo. Durante a segunda quinzena de janeiro, os mesmos três estudantes receberam intimações para um depoimento no 23o DP, em Perdizes, o que anuncia a possibilidade de um Processo Criminal.
Bolsas liberadas temporariamente
Em princípio, a Reitoria negou a 21 bolsistas o direito de se matricular para o primeiro semestre letivo de 2008. Contudo, de acordo com a professora Célia Forghieri, assessora da Vice-Reitoria Comunitária, em virtude do adiamento dos trabalhos da comissão processante, as bolsas serão mantidas até que haja um parecer definitivo. Em caso positivo, os alunos poderão perder as suas bolsas de estudo a qualquer momento.
Outra forma de punição é a suspensão de qualquer negociação com os alunos inadimplentes. Os estudantes relacionados pela Polícia na madrugada do dia 10 de novembro, ao chegarem ao Setor de Alunado, encontraram seus nomes marcados, negando-se a eles qualquer tipo de negociação de sua dívida, permitindo somente o pagamento à vista do débito pendente.

MOVIMENTO
Entenda o que foi a ocupação da Reitoria
O ano de 2007 foi marcado por tensões em torno da discussão sobre o processo de reestruturação da universidade, denominado Redesenho Institucional, pela gestão da reitora Maura Véras. Tal processo prevê uma profunda mudança organizativa que altera todo o funcionamento da universidade. Desde o primeiro semestre do ano passado, os CAs, as associações de professores e funcionários solicitaram à Reitoria e à Cori (Comissão do Redesenho Institucional), formada por alguns conselheiros do Consun, que o processo fosse realizado de maneira ampla, agregando todos os membros da comunidade. Isso porque, durante todo o processo, a participação no Redesenho restringiu-se a contribuições pela Internet e pequenas palestras que não conseguiram agregar todo o conjunto de professores, funcionários e estudantes ou promover debates que contassem com vozes dissonantes.
Faltando apenas um mês para a votação no Consun, que definiria a linha a ser adotada para a reestruturação da universidade, a Cori organizou no dia 5/11/2007 uma audiência pública a fim de esclarecer as propostas de Redesenho selecionadas pela comissão. Ao longo de toda a audiência, que lotou o Tuca, os representantes das três propostas oficiais – simbolizadas pela própria Reitoria, FEA e Centro de Educação – recusaram-se a responder diversas questões levantadas pelo plenário.
Indignados com tal atitude, cerca de 500 estudantes presentes no Tuca retiram-se da audiência e organizaram uma assembléia para decidir de que forma se mobilizariam frente ao Redesenho. Na assembléia os estudantes deliberaram por sair em ato pela universidade, a fim de declarar seu protesto contra os acontecimentos. Eis que em meio ao ato, de maneira espontânea, as centenas de estudantes resolveram ocupar a sede da Reitoria.
A Reitoria permaneceu ocupada durante cinco dias e, para que fosse feita a desocupação, os estudantes reivindicavam a supressão do processo de Redesenho Institucional. O prédio acabou sendo desocupado por meio da força policial, violando um jejum de 30 anos desde a última invasão da PM no câmpus.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

análise bem educada - José Arbex

O espectro de 1929 ronda os Estados Unidos

José Arbex Jr.

Não se trata de uma crise qualquer; a crise estadunidense expõe a olhos nus o frágil edifício sobre o qual se construiu a chamada “globalização”

A crise atual do capitalismo mundial é evidenciada, entre outras coisas, pelo “estouro” do sistema de créditos imobiliários nos Estados Unidos e pelo prejuízo de 10 bilhões de dólares registrado pelo Citibank, o maior desde 1945. Não se trata de uma crise qualquer, nem de “mais uma” entre tantas outras: de fato, ameaça transformar-se em uma quebra de grandes proporções. O espectro de 1929 assusta o mercado financeiro e expõe a olhos nus o frágil edifício sobre o qual se construiu a chamada “globalização”.

Nos Estados Unidos, centro do capitalismo mundial, centenas de milhares de famílias endividadas não têm mais de onde extrair recursos para pagar suas dívidas, especialmente numa situação em que mesmos os economistas mais “otimistas” admitem a chegada da recessão. Várias cidades do meio-oeste estadunidense apresentam hoje um cenário desolador, semelhante ao de Detroit, a antiga orgulhosa capital do automóvel, com prédios e casas abandonadas. Sãos os primeiros sinais visíveis da falência de um sistema que, ao longo dos anos 90 e início do novo século, transformou a economia em cassinos abertos ao capital especulativo.

Como resume o historiador e economista Robert Brenner, colaborador da New Left Review: “Os anos desde o início do atual ciclo econômico, iniciado no começo de 2001, foram os piores entre todos. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos foi o mais lento para qualquer intervalo comparativo, desde o fim dos anos 40, ao passo que a instalação de novas fábricas e equipamentos e a criação de empregos mantiveram-se, respectivamente, em níveis 1/3 e 2/3 inferiores à média geral do período pós-guerra. Os salários reais para os trabalhadores empregados diretamente na produção, cerca de 80% da força de trabalho, foram praticamente achatados, mantendo-se no nível de 1979.”

Panela de pressão

O quadro geral não é muito diferente na Europa e no Japão. As manifestações dos jovens pobres que vivem nos subúrbios de Paris e de outras cidades francesas foram, corretamente, interpretadas como o “apito da panela de pressão” que ameaça estourar na Itália, na Alemanha, em Portugal e Espanha. Não é o caso, aqui, de explicar em detalhes os mecanismos da crise, mas sim de assinalar que o domínio do capital financeiro e especulativo sobre a economia real assegurado pelo neoliberalismo – isto é, o domínio do jogo de pôquer travado nas Bolsas de Valores e sistemas financeiros mundiais sobre a indústria e a produção de bens materiais – trouxe o mundo à beira do abismo.

A China, cujo maior parceiro comercial são os Estados Unidos, também sente a ameaça representada pelos efeitos da recessão, podendo multiplicar o estrago em escala planetária. A demanda de matéria-prima, equipamentos e máquinas suscitada pelo extraordinário crescimento da economia chinesa na última década foi um dos motores da economia mundial, além de assegurar emprego na própria China (ainda que, em regiões altamente industrializadas, os salários praticados são vergonhosos, mesmo para padrões brasileiros). O desaceleramento eventual da economia chinesa vai produzir um efeito cascata em todos os países cujos produtos os chineses importam, incluindo, é óbvio, o Brasil.

Quais serão, aliás, os efeitos da crise para o Brasil? Serão certamente nefastos, já que o país orientou o seu crescimento segundo um modelo agroexportador, totalmente dependente das flutuações do mercado internacional. Além disso, a brutal concentração de renda concentrou o controle da economia nas mãos de um pequeno punhado de empresas, a maioria das quais associadas ao capital transnacional ou diretamente controlada por grupos transnacionais. Com um mercado interno frágil (se houve aumento de trabalhadores com carteira assinada no governo Lula, a renda média caiu, isto é, houve o crescimento do trabalho desqualificado), a economia nacional é totalmente vulnerável às oscilações do capitalismo mundial.

E quando o Brasil começará a sentir os efeitos da crise? Já começou, com o congelamento da queda das taxas de juros, assumido pelo Banco Central como “medida de cautela”. Isto é, o Brasil se dispõe a continuar remunerando o capital com as mais altas taxas de rendimento do mundo, por temer que a crise “seque” a fonte de dólares despejadas no país.

Colchão de dólares

As reservas brasileiras somam, hoje, algo em torno de 200 bilhões de dólares. Segundo o governo Lula, isso representa um “colchão” confortável para aliviar os efeitos da crise. Mas se ela realmente se agravar como temem os economistas, incluindo alguns dos mais ardorosos defensores do neoliberalismo, como a revista Economist (que considera a “bolha especulativa” criada entre 2001 e 2005 como a maior, em todos os tempos), então as reservas brasileiras não serão de muita valia, pois todo o modelo econômico será colocado em questão.

A tragédia, enfim, bate às portas do mercado mundial. Exagero? De jeito nenhum. Não por acaso, “mudança” é a palavra de ordem de Barack Obama, o pré-candidato “azarão” do atual processo de escolha dos candidatos à presidência dos Estados Unidos. Com essa simples mensagem, Obama conseguiu reunir as condições para deixar de ser um pré-candidato “exótico” e ver o seu nome seriamente levado a sério. Jovens, intelectuais, dirigentes sindicais e gente simples na rua apóiam Obama, por sentir a necessidade de “mudança”. Todos sabem que, do jeito que está, não dá mais para continuar.

Não importa, aqui, discutir quais são as reais intenções de Obama, nem a qualidade das mudanças que um pré-candidato do Partido Democrata pode, de fato, realizar. O que importa é notar a total rejeição da opinião pública ao emblema máximo do mundo neoliberal: o presidente George Bush. Seu governo foi uma rara combinação de especulação financeira, corrupção e aventura militar, tudo ancorado no autoritarismo e repressão policial, para desembocar, agora, na crise. Se ela servir, ao menos, para colocar uma pá de cal no neoliberalismo, poderá então abrir novos caminhos para a luta de classes, nos Estados Unidos e no mundo.

José Arbex Jr. é jornalista, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP) e doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Cobrecos Maceió

Acabou no último dia 27, em Maceió, o COBRECOS (Congresso Brasileiro de Estudantes de Comunicação Social), espaço que define os posicionamentos políticos e as ações da ENECOS (Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social) para 2008.

Desde 2006, ano do Cobrecos Recife, o CAVH vem atuando de forma constante nos espaços da Enecos, tendo participado da organização do Cobrecos São Paulo 2007 e mandado 9 pessoas para o Erecom (Encontro Regional dos Estudantes de Comunicação Social) 2007, que aconteceu em Curitiba, além de atuar nas ações tocadas pela regional São Paulo.

Todo esse trabalho culminou na maior participação da Cásper Líbero em um Cobrecos nos últimos anos: mandamos dois delegados e três observadores para Maceió. Pode parecer pouco (e é), mas levando em conta que era um Congresso de oito dias, a 46 horas de distância de ônibus, que muita gente trabalha e etc, conclui-se que nossa participação foi no mínimo considerável.

O Cobrecos definiu os posicionamentos da Enecos para 2008 e alterou o Estatuto da Executiva (ver em enecos.org.br), além de confirmar o Rio de Janeiro como sede do Enecom (Encontro Nacional dos Estudantes de Comunicação), a ser realizado no final de julho. Além disso, foi empossada uma nova Comissão Gestora que ficará na Coordenação da Executiva até que sejam realizadas as novas eleições (inscrições de chapa até maio).

Agora é seguir o trabalho pra aproximar a Executiva do cotidiano dos estudantes da Cásper Líbero pra podermos tocar suas bandeiras: combate às opressões, democratização da comunicação e qualidadade de formação do comunicador.

O que somos? Mal educados

texto escrito no lançamento da chapa Mal Educados, em maio de 2007


Mal Educados é mais que o nome de uma chapa, mais que um grupo de estudantes decididos a questionar como funcionam as coisas na Cásper Líbero, a levantar problemas e propor debates que levantem soluções construídas coletivamente. Mal Educados é uma definição do que somos, uma condição, é a consciência de algo não vai bem: nossa educação.

Obviamente os problemas na educação não são um privilégio da Cásper, mas temos que começar buscando melhorar o local onde estamos. Na Cásper somos mal educados nas três pernas que formam o tripé da educação superior: ensino, pesquisa e extensão. O ensino é deficiente, há aulas fracas, há descaso pela opinião dos estudantes, não há comunicação entre disciplinas e professores. A pesquisa é ínfima, dá pra contar nos dedos quantos alunos são contemplados, e mesmo estes recebem pouquíssimo incentivo – e bolsas muito baixas. A extensão – que é a forma como a faculdade se insere na comunidade a seu redor – não existe. A Faculdade na verdade é refém do prédio da Fundação, uma ilha vertical onde só entra quem paga. Não há relação com a comunidade, não há troca de experiências: o que se aprende aqui fica aqui. O mundo lá fora? Só um detalhe...

Somos mal educados por uma direção que não dá as caras, que não se importa com o que pensam os estudantes e professores, que se submete voluntariamente a uma Fundação inatingível e obscura, só preocupada em manter suas nebulosas contas em ordem. No fim, nossa má educação é só uma boa mercadoria para eles venderem. Mensalidade subindo todo ano acima da inflação é só um dos sintomas dessa mentalidade que elitiza cada vez mais o perfil dos alunos da Cásper.
Somos mal educados por uma burocracia irritante, por equipamentos insuficientes e carentes de manutenção constante, pelo monopólio de um restaurante caríssimo e de qualidade questionável, por serviços de xerox e impressão que são um teste de paciência, por uma arquitetura que quase impossibilita a interação e o lazer (e os estudos, quando ta calor), pela “catracalização” do espaço acadêmico, onde todo mundo é culpado até que se prove o contrário, onde tudo é filmado e vigiado, onde nem amigo de estudante pode entrar.

Má educação é a que não nos faz pensar, que é pensada e implementada exclusivamente no sentido não de formar cabeças criticamente pensantes mas sim mão de obra reprodutora. Queremos ter empregos sim, mas cabe a nós, Mal Educados, questionar se é só isso, se é possível uma educação que ignore a sociedade a sua volta, se os quatro anos que passamos aqui são só uma forma de parcelar o pagamento do diploma que irá nos credenciar para o mercado, se estamos aqui para criar ou para reproduzir, para fazermos parte de um processo de educação ou para sermos simplesmente educados. Mal educados.

Para colocar essas questões em debate, para buscar soluções não apenas que agradem aos estudantes, mas que sejam construídas em conjunto por todos nós, é que a chapa Mal Educados lança sua candidatura. Acreditamos que o Centro Acadêmico é o instrumento que temos para sermos ouvidos, para nos divertir e organizar, para refletir e trocar experiências. Por isso, mais do que um voto, contamos com o seu apoio e participação para transformarmos o que nos incomoda na Cásper, para sermos sujeitos de nossa educação, e não mais apenas clientes mal educados.